O que Pink Floyd e Crossdressing tem a ver? Tudo!



Capa do single "Arnold Layne", do Pink Floyd

Meus amores, em março deste ano fez aniversário de cinquenta anos a canção Arnold Layne, o single que em 1967 rapidamente atingiria o Top 20 britânico e marcaria a ascensão de uma de minhas bandas mais queridas, o Pink Floyd!

Do Pink Floyd não preciso falar muito: é um dos grupos mais bem-sucedidos da História do Rock, contando com legiões de fãs no mundo todo (eu incluída). Foi um dos criadores dos chamados Rocks Psicodélico e Progressivo, e alguns de seus álbuns, como The Dark Side Of The Moon, são considerados obras-primas eternas. Arrisco até a dizer que, daqui a alguns séculos, algumas músicas deles serão ouvidas da mesma forma como hoje ouvimos música clássica de séculos passados.

Entretanto, o que poucos sabem sobre eles é que, em seu início de carreira, cinquenta anos atrás, seu debut single teria como tema o Crossdressing, ou seja, o ato de se vestir com roupas do gênero oposto. O personagem Arnold Layne, que dá título à canção, é um rapaz que rouba lingerie dos varais das casas vizinhas para vesti-los!

A composição é de Syd Barrett, então líder da banda, um artista brilhante e no auge de seu processo criativo. A música começa com um tom bem-humorado, dizendo “Arnold Layne tinha um hobby estranho”. Em seguida, conta como o rapaz roubava as calcinhas e sutiãs dos varais e depois as vestia escondido em frente ao espelho, admirando a própria imagem. Ao final, ele é preso e condenado. A música termina com uma bronca meio infantil, Arnold Layne, don’t do it again, forçando uma rima intencionalmente tosca de “Layne” e “again”.

Um videoclip foi feito no mesmo ano de 1967, no qual os integrantes do Floyd brincam com um manequim em uma praia. Para vê-lo, dê um click no link abaixo:


O tal "Arnold Layne" existiu realmente?

A Wikipédia cita uma entrevista, sem fontes mencionadas, na qual Roger Waters, futuro líder da banda após a doença de Syd, conta que “Arnold” foi inspirado em uma pessoa real. Roger era amigo de infância de Syd e eles eram praticamente vizinhos. Havia uma escola para moças no bairro e muitas casas funcionavam como pensionatos. As mães de ambos não eram exceção e também faziam de suas casas alojamentos para as estudantes. Consequentemente, as roupas femininas eram abundantes nos varais. Roger conta que os sumiços de peças do varal aconteciam mesmo e eram devidos a este tal “Arnold”.

Entretanto, o próprio Syd, em uma entrevista citada na biografia A Very Irregular Head: The Life of Syd Barrett, diz que “Arnold Layne” é apenas um nome inventado para uma canção pop, nada mais. A ideia do crossdressing seria apenas uma maluquice inspirada na cena do enorme varal da casa da mãe de Roger, cheia de roupas-de-baixo femininas. Contradição interessante, não?

Syd Barrett

O engraçado da canção é que ela descreve muito bem o narcisismo típico do crossdresser. O ato de se admirar em frente ao espelho é muito comum. Além disso, em nenhum momento existe uma crítica do comportamento, mas sim brincadeiras bem-humoradas e até ingênuas. Eu, do jeito que sou, especulo como Syd conhecia tão bem o assunto... Seria “Arnold” um amigo íntimo dele, que lhe contava tudo? Ou seria Syd Barrett o próprio “Arnold”? ;)

Uma polêmica bem-vinda

A Radio London, quando finalmente sacou do que se tratava a letra da música, rapidamente a baniu de sua programação, por considera-la obscena. A Rádio BBC, por sua vez, a continuou tocando normalmente. Este era exatamente o tipo de polêmica que a banda precisava, o interesse dos ouvintes pela música aumentou e o nome Pink Floyd tornou-se rapidamente conhecido.

Além do tema incomum, a música era bem diferente dos padrões da época: trazia uma guitarra seca, vocais distantes e com eco, um solo interminável de teclados. Era o Rock Psicodélico, influenciado pelas experiências com LSD, que tinha o objetivo de induzir sensações “fora da realidade” aos ouvintes.

Alguns meses depois, o grupo foi convidado pela gravadora EMI a fazer seu primeiro álbum. O trabalho foi conduzido no famoso estúdio Abbey Road, no mesmo local e praticamente ao mesmo tempo em que os Beatles gravavam as músicas do extraordinário Sgt Pepper’s Lonely Heart Club Band.


Capa de The Piper At The Gates Of Dawn

Aquele álbum viria a se chamar The Piper At The Gates Of Dawn, saudado até hoje por sua qualidade e considerado uma referência de rock psicodélico. O Pink Floyd solidificava seu nome como banda cult e iniciava assim a sua trajetória meteórica.

E tudo começou com um crossdresser que roubava calcinhas do varal das vizinhas!




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